sexta-feira, 27 de maio de 2016

História da semana #134 - Reencontro

O quinteto maravilha! Era assim que eles se chamavam quando adolescentes. Cinco jovens que percorreram toda a Galileia em busca das mais diversas aventuras e descobertas. Mas na história da vida sempre chega o momento de parar e eles pararam. Cada um foi para um lado. Cinco destinos diferentes que se destinavam a reunir-se mais uma vez e com um único propósito: Jesus. Ninguém sabia ao certo o que esperar do novo rabi que surgia na região, mas ele tinha algo diferente e um acontecimento inesperado vai forçar o reencontro dos cinco para buscar o Messias.

Quinteto maravilha! Um nome deveras infantil, mas quem de nós que ligava para isso? Eramos jovens imaturos, largados num mundo incerto. Embora os laços fossem fortes, acho que sempre soubemos que a separação era inevitável. Gostos diferentes, talentos diferentes, famílias diferentes, acho que ninguém arriscaria que um dia fossemos nos tornar melhores amigos, mas acho que o Deus de nossos pais tinha um propósito para isso. Antes de prosseguir no relato extraordinário que ocorreu em nosso reencontro, deixe-me apresentar-lhes quem eram os membros deste tão seleto grupo.
Me chamo Isaías, sou um pescador que vive as margens do Mar da Galileia. Atualmente sou casado e tenho uma filha. Naqueles tempos passados, e que tempos, era considerado o líder do grupo. Rute era a mais jovem do grupo, era de uma família rica da região. Possuía um riso quase angelical e era uma das mais animadas do grupo. Hoje, ela é esposa de um líder religioso em Jerusalém. Só nos vimos uma vez depois de seu casamento. O seu esposo não parece ser desses fariseus do Sinédrio que se dizem conhecedores das leis, mas que vivem da extorsão do povo. É um bom sujeito, um jovem sonhador que conhecemos, ironicamente, em uma de nossas últimas andanças como grupo. Joseph era o mais esquentadinho do grupo, mas isso nunca desfortaleceu nossa amizade. Apesar do temperamento, era o mais empolgado de todos. Formador de opinião e defensor de todos, era o que nos protegia em eventuais desavenças que tínhamos. Seu presente é um pouco confuso. Nem sei por onde anda, mas da última vez que ouvi falar dele, era um foragido por associação aos zelotes. As poucas vezes que obtenho notícias dele são quando recebo cartas de sua irmã Ana, outra integrante do grupo. Ana trabalha como serva na casa de uma família de Cafarnaum, ela ajuda a cuidar de crianças, afinal sempre teve jeito com isso. Era a mais devota a religião de todo o grupo e também a que eu mais confiava. Por último tínhamos Oseias. Ele sempre fora meu amigo, mesmo antes de conhecermos o restante do grupo e meus pais, diga-se de passagem, sempre tiveram um pé atrás com ele. Era boa gente, mas desses malandros e travessos. Logo que começamos a nos reunir, notava-se uma espécie de paixão entre ele e Ana. Não é segredo que se casaram, mas Oseias nunca foi um sujeito muito santo. Dói em mim pensar que Oseias já cometeu erros inimagináveis. Só mesmo alguém como Ana poderia ter aguentado. Por fim, tornou-se um ébrio. Mas, afinal, vamos prosseguir com o relato. Acho que pouco importam os motivos que nos levaram a nos reunir e a nos separarmos, são outras histórias e como dizem "passado é passado, o que importa é o presente."

O renascimento do grupo se deu por uma ordem de fatores que pretendo contar brevemente. 
Já era noite, quando cheguei em casa. Minha esposa e meus filhos apenas me aguardavam para o jantar. Ao chegar, entretanto, me deparei com uma carta sobre a mesa. Segundo minha esposa, tinha chegado pela manhã. Ignorei-a e fui jantar, mas antes de dormir, resolvi abrir a carta e ver seu conteúdo. Qual não foi minha surpresa ao ver o remetente: Rute. Já fazia tempo que não tínhamos contato. Ela queria reunir a turma novamente, disse que não conseguiu falar com mais ninguém e pediu urgência na resposta. Perguntou-me também sobre o assunto da moda, afinal todos falavam disso. O novo rabi, o tal de Jesus. Embora morasse em Cafarnaum, pouco tinha a dizer sobre ele. Religião não é meu forte, ia a sinagoga todo o sábado e cumpria as leis a risca, mas nunca senti nada ao fazer isso, fazia por obrigação e por educação. Com a economia como está, deixar o trabalho para rever novas amizades só poderia ser ideia de uma nobre, mas para nós era inviável. No outro dia porém, algo me surpreendeu. Saí cedo para a pesca e, apesar do tempo não estar favorável, pesquei como nunca. Não fui egoísta, chamei meus companheiros para a região, mas os peixes pareciam atraídos por mim, somente eu consegui uma boa pesca. E que pesca! Com as vendas do dia, obtive o dinheiro que obtenho em duas semanas. Aquilo por si só já parecia sobrenatural. Lembrei-me da carta e das impossibilidades de ir ao encontro de Rute e logo liguei os pontos. Seria Deus intervindo para que esse encontro acontecesse? Se não bastasse, ao ir em direção a minha casa, passei pela praça e lá estava Jesus. Muitas pessoas se aglomeravam para vê-lo, mas consegui um bom lugar. Suas palavras eram diferentes. Tão reais, confortantes e inspiradoras que qualquer um poderia dizer que ali estava alguém especial. Depois, vi com meus próprios olhos, Jesus curou um cego. Dá para acreditar? Os relatos eram verdadeiros, Jesus era realmente um homem diferente. Mais uma vez a carta me veio a cabeça. Seria pura coincidência ou seria Deus tentando reunir cinco velhos amigos para um propósito especial? Jesus estava envolvido nisso? 
Ao chegar em casa, separei o dízimo, dei a minha esposa o restante e expus a ela minhas indagações. Tomamos a decisão e logo escrevi a resposta a minha antiga amiga. Contei-a do ocorrido e dei minhas opiniões sobre o tal rabi: "Levando em conta tudo que aconteceu, acho que Deus quer esse reencontro. Algo excepcional está para acontecer com o 'quinteto maravilha' e tenho a impressão que o novo rabi tem algo a ver com isso. Aguardo a você em Cafarnaum."

Em poucos dias, Rute e seu marido chegaram a Cafarnaum, mas isso é história para a semana que vem.

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